O que são?
Os 39 Artigos da Religião são os preceitos essenciais que constituem a base da fé da ala protestante do Anglicanismo, oferecendo um resumo útil de sua teologia.
Estes artigos foram formulados no século XVI, durante a reforma protestante, para delinear claramente as crenças centrais e as diferenças teológicas com a Igreja Católica Romana.
Nesse contexto, eles oferecem um breve, porém abrangente, panorama do pensamento protestante anglicano abordando temas como a natureza de Deus, a relevância das Escrituras, os sacramentos e a estrutura da igreja.
Mantêm-se culturalmente significativos, ainda que nem sempre sejam estritamente aderidos nos diferentes ramos do anglicanismo.
OS 39 ARTIGOS DA RELIGIÃO
I. DA FÉ NA SANTÍSSIMA TRINDADE
Há um único Deus, vivo e verdadeiro, eterno, sem corpo, indivisível não sujeito a
paixões, de infinito poder, sabedoria e bondade; Criador e Sustentador de todas as
coisas visíveis e invisíveis. E na unidade desta Divindade há três Pessoas, da mesma
substância, poder e eternidade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
II. DO VERBO OU FILHO DE DEUS, QUE SE FEZ VERDADEIRO HOMEM
O Filho, que é o Verbo do Pai, gerado da eternidade do Pai, verdadeiro e sempiterno
Deus, e consubstancial com o Pai, tomou a natureza humana no ventre da bendita
virgem e da sua substância; de sorte que as duas inteiras e perfeitas Naturezas, isto
é, divina e humana, se uniram em uma Pessoa, para nunca mais se separarem, das
quais resultou Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; que verdadeiramente
padeceu foi crucificado, morto e sepultado, para reconciliar seu Pai conosco, e ser
vítima, não só pela culpa original, mas também pelos atuais pecados dos homens.
III. DA DESCIDA DE CRISTO AO HADES
Assim como Cristo morreu por nós, foi sepultado; assim também deve ser crido que
desceu ao Hades.
IV. DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
Cristo verdadeiramente ressuscitou dos mortos e tomou de novo o seu corpo, com
carne, ossos e tudo o mais pertencente à perfeição da natureza humana; com o que
subiu ao Céu, e lá está assentado, até que volte a julgar todos os homens, no
derradeiro dia.
V. DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo, procedente do Pai e do Filho, é da mesma substância, majestade e
glória que o Pai e o Filho, verdadeiro e eterno Deus.
VI. SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS SAGRADAS PARA A SALVAÇÃO
A Escritura Sagrada contém todas as coisas necessárias para a salvação; de modo
que tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de
pessoa alguma que seja crido como artigo de fé ou julgado como requerido ou
necessário para a salvação. Pelo nome de Escritura Sagrada entendemos os Livros
canônicos do Antigo e Novo Testamentos, de cuja autoridade jamais houve
qualquer dúvida na Igreja.
OS NOMES E NÚMERO DOS LIVROS CANÔNICOS
- Gênesis
- Êxodo
- Levítico
- Números
- Deuteronômio
- Josué
- Juízes
- Rute
- Primeiro Livro de Samuel
- Segundo Livro de Samuel
- Primeiro Livro de Reis
- Segundo Livro de Reis
- Primeiro Livro de Crônicas
- Segundo Livro de Crônicas
- Livro de Esdras
- Livro de Neemias
- Livro de Ester
- Livro de Jó
- Salmos
- Provérbios
- Eclesiastes ou Pregador
- Cântico dos Cânticos
- Os Quatros Profetas Maiores
- Os Doze Profetas Menores
E os outros Livros (como diz Jerônimo), a Igreja os lê para exemplo de vida e
instrução de costumes; mas não os aplica para estabelecer doutrina alguma. São os
seguintes: - Terceiro Livro de Esdras
- Quarto Livro de Esdras
- Livro de Tobias
- Livro de Judite
- O restante dos livros de Ester
- Livro da Sabedoria
- Jesus, Filho de Siraque
- O Profeta Baruque
- O Cântico dos Três Mancebos
- A História de Susana
- De Bel e o Dragão
- Oração de Manassés
- Primeiro Livro de Macabeus
- Segundo Livro dos Macabeus
Recebemos e contamos por canônicos todos os Livros do Novo Testamento,
como são comumente recebidos.
VII. DO VELHO TESTAMENTO
O Velho Testamento não é contrário ao Novo; porquanto em ambos, tanto no Velho
como no Novo, se oferece a vida eterna ao gênero humano, por Cristo, que é o único
mediador entre Deus e o homem, sendo Ele mesmo Deus e homem. Portanto, não
devem ser ouvidos os que pretendem que os antigos Pais só esperaram promessas
transitórias. Ainda que a Lei de Deus, dada por meio de Moisés, no que respeita a
Cerimônia e Ritos, não obrigue os cristãos, nem devem ser recebidos
necessariamente os seus preceitos civis em nenhuma comunidade; todavia, não há
cristão algum que esteja isento da obediência aos Mandamentos que se chamam
Morais.
VIII. DOS CREDOS
O Credo Niceno e o que ordinariamente se “Símbolo dos Apóstolos” devem ser
inteiramente recebidos e cridos; porque se podem provar com autoridade muito
certas da Escritura Sagrada.
IX. DO PECADO ORIGINAL
O pecado original não consiste na imitação de Adão (como vãmente pregado pelos
Pelagianos); é, porém, a falta e corrupção da Natureza de todo o homem gerado
naturalmente da semente de Adão; pelas quais o homem dista muitíssimo da
retidão original e é de sua própria natureza inclinada ao mal, de sorte que toda a
carne sempre cobiça contra o espírito; e, por isso, toda pessoa que nasce neste
mundo merece a ira e a condenação de Deus. E esta infecção da natureza ainda
permanece também nos que são regenerados, pela qual o apetite carnal chamado
em grego Phrônema sarkós (que uns interpretam sabedoria, outros sensualidade,
outros afeição, e outros, desejo carnal), não é sujeito à Lei de Deus e apesar de que
não há condenação para os que creem e são batizados, contudo o Apóstolo confessa
que a concupiscência e luxúria têm de si mesmas a natureza do pecado.
X. DO LIVRE ARBÍTRIO
A condição do Homem depois da queda de Adão é tal que ele não pode converter-
se e preparar-se a si mesmo por sua própria força natural e boas obras, para a fé e invocação a Deus. Portanto, não temos o poder de fazer boas obras agradáveis e
aceitáveis a Deus, sem que a graça de Deus por Cristo nos previna, para que
tenhamos boa vontade, e coopere conosco enquanto temos essa boa vontade.
XI. DA JUSTIFICAÇÃO DO HOMEM
Somos reputados justos perante Deus, somente pelo mérito de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo pela Fé, e não por nossos próprios merecidos e obras.
Portanto, é doutrina mui saudável e cheia de consolação a de que somos justificados
somente pela Fé, como se expõe mais amplamente na Homilia da Justificação.
XII. DAS BOAS OBRAS
Ainda que as boas obras, que são os frutos da Fé, e seguem a justificação, não
possam expiar os nossos pecados, nem suportar a severidade do Juízo de Deus, são,
todavia, agradáveis e aceitáveis a Deus em Cristo, e brotam necessariamente duma
verdadeira e viva fé; tanto que por elas se pode conhecer tão evidentemente uma
fé viva como uma árvore se julga pelo fruto.
XIII. DAS OBRAS ANTES DA JUSTIFICAÇÃO
As obras feitas antes da graça de Cristo, e da Inspiração de seu espírito, não são
agradáveis a Deus, porquanto não procedem da fé em Jesus Cristo; nem fazem
homens dignos de receber a graça, nem (como dizem os autores escolásticos)
merecem a graça de côngruo; muito pelo contrário, visto que elas não são feitas
como Deus quis e ordenou que fossem feitas, não duvidamos terem elas a natureza
do pecado.
XIV. DAS OBRAS DE SUPERROGAÇÃO
As obras voluntárias, que excedem os Mandamentos de Deus, e que se chamam
Obras de Superrogação, não se podem ensinar sem arrogância e impiedade; porque
por elas declaram os homens que não só rendem a Deus tudo a que são obrigados,
mas também a favor dele fazem mais do que, como rigoroso dever, lhes é requerido;
ainda que Cristo claramente disse: Quando tiveres feito tudo o que vos está
ordenado dizei: Somos servos inúteis.
XV. DE CRISTO ÚNICO SEM PECADO
Cristo, na verdade de nossa natureza, foi feito semelhante a nós em todas as coisas,
exceto no pecado, do qual foi totalmente isento, tanto na sua carne como no Seu
espírito. Ele veio para ser o Cordeiro imaculado, que, pelo sacrifício de si mesmo
uma vez oferecido, tirasse os pecados do mundo; e o pecado (como diz São João)
não estava nele. Porém nós, os demais homens, posto que batizados, e nascidos de
novo em Cristo, ainda pecamos em muitas coisas; e se dissermos que não temos
pecado, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós.
XVI. DO PECADO DEPOIS DO BATISMO
Nem todo pecado mortal voluntariamente cometido depois do Batismo é pecado
contra o Espírito Santo, e irremissível. Pelo que não se deva negar a graça do
arrependimento aos que tiverem caído em pecado depois do Batismo. Depois de
termos recebido o Espírito Santo, podemos apartar-nos da graça concedida, e cair
em pecado, e pela graça de Deus levantar-nos de novo, e emendar nossas vidas.
Devem, portanto, ser condenados os que dizem que já não podem pecar mais,
enquanto aqui vivem, ou os que negam a oportunidade de perdão às pessoas
verdadeiramente arrependidas.
XVII. DA PREDESTINAÇÃO E ELEIÇÃO
A predestinação para a vida é o eterno propósito de Deus, pelo qual (antes de
lançados os fundamentos do mundo) tem constantemente decretado por seu
conselho, a nós oculto, livrar da maldição e condenação os que elegeu em Cristo
dentre o gênero humano, e conduzi-los por Cristo à salvação eterna, como vasos
feitos para honra. Por isso, os que se acham dotados de um tão excelente benefício
de Deus, são chamados segundo o propósito de Deus, por seu Espírito, operando
em tempo devido; pela graça obedecem à vocação, são justificados gratuitamente;
são feitos Filhos de Deus por adoção; são criados conforme à imagem de Seu
Unigênito Filho Jesus Cristo; vivem religiosamente em boas obras, e, enfim, chegam,
pela misericórdia de Deus, à felicidade eterna.
Assim como a pia consideração da Predestinação, e da nossa Eleição em Cristo, é
cheia de um doce, suave, e inexplicável conforto para as pessoas devotas, e os que
sentem em si mesmos a operação do Espírito de Cristo, mortificando as obras da
carne, e seus membros terrenos, e levantando o seu pensamento às coisas altas e
celestiais, não só porque muito estabelece e confirma a sua fé na salvação eterna
que hão de gozar por meio de Cristo, mas porque veemente acende o seu amor para
com Deus; assim para as pessoas curiosas e carnais, destituídas do Espírito de Cristo,
o ter de contínuo diante dos seus olhos a sentença da Predestinação de Deus, é um
princípio muitíssimo perigoso, por onde o Diabo as arrasta ao desespero, ou a que
vivam numa segurança de vida impuríssima, não menos perigosa que a
desesperação. Além disso, devemos receber as promessas de Deus do modo que nos são geralmente propostas nas Escrituras Sagradas; e seguir em nossas obras a vontade
de Deus, que nos é expressamente declarada na Sua Palavra.
XVIII. DE OBTER A SALVAÇÃO ETERNA UNICAMENTE PELO NOME DE CRISTO
Devem ser também tidos por amaldiçoados os que se atrevem a dizer que todo o
homem será salvo pela lei ou pela seita que professa, contanto que seja cuidadoso
em modelar sua vida segundo essa lei e o lume da natureza. Porque a as Escritura
Santa somente nos propõe o nome de Jesus Cristo, como único meio pelo qual os
homens se hão de salvar.
XIX. DA IGREJA
A Igreja visível de Cristo é uma congregação de fiéis, na qual é pregada a pura
Palavra de Deus, e são devidamente ministrados os Sacramentos conforme a
Instituição de Cristo em todas as coisas que necessariamente se requerem neles.
Assim como a Igreja de Jerusalém, de Alexandria, e de Antioquia, erraram; assim, também, a Igreja de Roma errou, não só quanto às suas práticas, ritos e cerimônias, mas também em matéria de fé.
XX. DA AUTORIDADE DA IGREJA
A Igreja tem poder de decretar Ritos ou Cerimônias, e autoridade nas controvérsias
da Fé; todavia não é lícito à Igreja ordenar coisa alguma contrária à Palavra de Deus
escrita, nem expor um lugar da Escritura de modo que repugne a outro. Portanto,
se bem que a Igreja seja testemunha e guarda da Escritura Sagrada, todavia, assim
como não é lícito decretar coisa alguma contra ela, também não se deve obrigar a
que seja acreditada coisa alguma, que nela não se encontra, como necessária para
a salvação.
XXI. DA AUTORIDADE DOS CONCÍLIOS GERAIS
O vigésimo primeiro artigo dos precedentes é omitido poque é, em parte, dum
caráter local e civil, e é provido, no tocante às restantes partes dele, em outros
artigos.
XXII. DO PURGATÓRIO
A doutrina romana relativa a Purgatório, Indulgências, Veneração e Adoração tanto
de imagens como de relíquias, e também a invocação dos Santos, é uma coisa fútil
e vãmente inventada, que não se funda em testemunho algum da Escritura, mas, ao
contrário, repugna à Palavra de Deus.
XXIII. DA MINISTRAÇÃO NA IGREJA
A ninguém é lícito tomar sobre si o cargo de pregar publicamente, ou administrar
os Sacramentos na Congregação, antes que seja legalmente chamado, e enviado a
executá-lo. E devemos julgar por legalmente chamados e enviados aqueles que
tiverem sido escolhidos e chamados para essa obra pelos homens revestidos
publicamente de autoridade, dada à eles na Congregação, para chamar e enviar
Ministros à Vinha do Senhor.
XXIV. DA LÍNGUA VERNÁCULA NO CULTO
Repugna evidentemente a Palavra de Deus, e ao uso da Igreja Primitiva dizer
Orações Públicas na Igreja, ou administrar os Sacramentos em língua que o povo
não entende.
XXV. DOS SACRAMENTOS
Os Sacramentos instituídos por Cristo não são unicamente designações ou indícios
da profissão dos Cristãos, mas antes testemunhos certos e firmes, e sinais eficazes
da graça, e da boa vontade de Deus para conosco pelos quais ele opera
invisivelmente em nós, e não só vivifica, mas, também, fortalece e confirma a nossa
fé nele.
São dois os Sacramentos instituídos por Cristo nosso Senhor no Evangelho, isto é, o
Batismo e a Ceia do Senhor. Os cinco vulgarmente chamados Sacramentos, isto é, Confirmação, Penitência, Ordens, Matrimônio, e Extrema Unção, não devem ser contados como Sacramento do Evangelho, tendo em parte emanado duma viciosa imitação dos Apóstolos, e sendo em parte estados de vida aprovados nas Escrituras; não têm, contudo, a mesma natureza de Sacramentos peculiar ao Batismo e à Ceia do Senhor, porque não têm sinal algum visível ou cerimônia instituída por Deus.
Os Sacramentos não foram instituídos por Cristo para servirem de espetáculo, ou
para serem levados em procissão, mas, sim, para devidamente os utilizarmos. É só
nas pessoas que dignamente os recebem é que produzem um saudável efeito ou
operação; mas, os que indignamente os recebem, adquirem para si mesmos a
condenação, como diz São Paulo.
XXVI. DA INDIGNIDADE DOS MINISTROS, A QUAL NÃO IMPEDE O EFEITO DOS
SACRAMENTOS
Ainda que na Igreja visível os maus sempre estejam misturados com os bons, e às
vezes os maus tenham a principal autoridade na Administração da Palavra e dos
Sacramentos; todavia, como o não fazem em seu próprio nome, mas no de Cristo, e
em comissão e por autoridade dele administram, podemos usar do seu Ministério,
tanto em ouvir a Palavra de Deus, como em receber os Sacramentos. Nem o efeito
da ordenança de Cristo é tirado pela sua iniquidade; nem a graça dos dons de Deus
diminui para as pessoas que com fé e devidamente recebem os Sacramentos que se
lhe administram; os quais são eficazes por causa da instituição e promessa de Cristo,
apesar de serem administrados por homens maus.
Não obstante, à disciplina da Igreja pertence que se inquira acerca dos Ministros
maus, e que sejam estes acusados por quem tenha conhecimento de seus crimes; e
sendo, enfim, reconhecidos culpados, sejam depostos mediante justa sentença.
XXVII. DO BATISMO
O Batismo não só é um sinal de profissão e marca de diferença, com que se
distinguem os Cristãos dos que o não são, mas também um sinal de Regeneração ou
Nascimento novo, pelo qual, como por instrumento, os que recebem o Batismo
devidamente, são enxertados na Igreja; as promessas da remissão dos pecados, e
da nossa adoção como filhos de Deus pelo Espírito Santo, são visivelmente marcadas
e seladas, a fé é confirmada, e a graça, aumentada por virtude da oração a Deus.
O Batismo das crianças deve conservar-se de qualquer modo na Igreja como
sumamente conforme à instituição de Cristo.
XXVIII. DA CEIA DO SENHOR
A Ceia do Senhor não é só um sinal do mútuo amor que os cristãos devem ter uns
para com os outros; mas antes é um Sacramento da nossa Redenção pela morte de
Cristo, de sorte que para os que devida e dignamente, e com fé o recebem, o Pão
que partimos é uma participação do Corpo de Cristo; e de igual modo o Cálice da
Bênção é uma participação do Sangue de Cristo.
A Transubstanciação (ou mudança da substância do Pão e Vinho) na Ceia do Senhor,
não se pode provar pela Escritura Sagrada; mas antes repugna às palavras
terminantes da Escritura, subverte a natureza do Sacramento, e tem dado ocasião
a muitas superstições. O Corpo de Cristo é dado, tomado, e comido na Ceia,
somente dum modo celeste e espiritual. E o meio pelo qual o Corpo de Cristo é
recebido e comido na Ceia é a Fé.
O Sacramento da Ceia do Senhor não foi pela ordenança de Cristo reservado, nem
levado em procissão, nem elevado, nem adorado.
XXIX. DOS ÍMPIOS, QUE NÃO COMEM O CORPO DE CRISTO NA CEIA DO SENHOR
Os ímpios, e os destituídos da fé viva, ainda que carnal e visivelmente comprimam
com os dentes (como diz Santo Agostinho) o Sacramento do Corpo e Sangue de
Cristo; nem por isso são de maneira alguma participantes de Cristo; mas, antes, para
sua condenação, comem e bebem o sinal ou Sacramento de uma coisa tão
importante.
XXX. DE AMBAS AS ESPÉCIES
O Cálice do Senhor não se deve negar aos Leigos; porque ambas as partes do
Sacramento do Senhor, por instituição e ordem de Cristo, devem ser administradas
a todos os cristãos igualmente.
XXXI. DA ÚNICA OBLAÇÃO DE CRISTO CONSUMADA NA CRUZ
A oblação de Cristo uma só vez consumada é a perfeita redenção, propiciação, e
satisfação por todos os pecados, tanto originais como atuais, do mundo inteiro; e
não há nenhuma outra satisfação pelos pecados, senão esta unicamente. Portanto,
os sacrifícios das Missas, nos quais vulgarmente se dizia que o Sacerdote oferecia
Cristo para a remissão da pena ou culpa, pelos vivos ou mortos, são fábulas
blasfemas e enganos perigosos.
XXXII. DO CASAMENTO DE SACERDOTES
Os Bispos, Presbíteros e Diáconos não são obrigados, por preceito algum da lei de
Deus, a votar-se ao estado celibatário, ou abster-se do matrimônio; portanto, é-lhes
lícito, como aos demais Cristãos, casar como entenderem, se julgarem que isso lhes
é mais útil à piedade.
XXXIII. COMO DEVEMOS EVITAR AS PESSOAS EXCOMUNGADAS
Aquele que por denúncia pública da Igreja for justamente separado da unidade da
Igreja, e suspenso da Comunhão, deve ser tido por Pagão e Publicano por todos os
fiéis, até que seja, mediante penitência, recebido na Igreja por um juiz que tenha
autoridade para isso.
XXXIV. DAS TRADIÇÕES DA IGREJA
Não é necessário que as tradições e Cerimônias sejam em toda a parte as mesmas,
ou totalmente semelhantes; porque em todos os tempos têm sido diversas, e
podem ser alteradas segundo a diversidade dos países, tempos e costumes dos
homens, contanto que nada se estabeleça contrário à Palavra de Deus. Todo aquele
que por seu particular juízo, com ânimo voluntário e deliberado, quebrar
manifestamente as Tradições e Cerimônias da Igreja, que não são contrárias à
Palavra de Deus, e se acham estabelecidas e aprovadas pela autoridade comum
(para que outros temam fazer o mesmo), deve ser publicamente repreendido, como
quem ofende a ordem comum da Igreja, fere a autoridade do Magistrado, e vulnera
as consciências dos irmãos débeis.
Toda a Igreja particular ou nacional tem autoridade para ordenar, mudar e abolir as
Cerimônias ou Ritos da Igreja, instituídos unicamente pela autoridade humana,
contanto que tudo se faça para a edificação.
XXXV. DAS HOMILIAS
O segundo livro das Homilias, cujos títulos reunimos abaixo deste artigo, contêm
doutrina pia, saudável e necessária para estes tempos, como também o primeiro
Livro das Homilias, publicado ao tempo de Eduardo VI; e, portanto, julgamos que
devem ser lidas pelos Ministros, diligente e distintamente nas Igrejas, para que
sejam entendidas pelo povo.
DOS NOMES DAS HOMILIAS
- Do uso correto da Igreja.
- Contra o perigo da idolatria.
- Do reparo e asseio das Igrejas.
- Das boas obras: principalmente o jejum.
- Contra a glutonaria e embriaguez.
- Contra o luxo do vestuário.
- Da oração.
- Do lugar e Templo da Oração.
- De como Orações e Sacramentos se devem administrar em língua conhecida.
- Da reverente estima à Palavra de Deus.
- Das esmolas.
- Da natividade de Cristo.
- Da Paixão de Cristo.
- Da Ressurreição de Cristo.
- Da digna recepção do Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo.
- Dos dons do Espírito Santo.
- Para os dias de Rogações.
- Do estado do Matrimônio.
- Do arrependimento.
- Contra a ociosidade.
- Contra a rebelião.
Este Artigo é recebido nesta Igreja enquanto declara que os Livros das Homilias são
explicações da Doutrina Cristã, e se destinam à instrução na piedade e moralidade.
As referências à Constituição e Leis da Inglaterra são, porém, consideradas
implacáveis às circunstâncias desta Igreja pelo que está suspensa também a ordem
para leitura das referidas Homilias nas Igrejas, até que se proceda a revisão que se
impõe, para livrá-las, tanto de palavras obsoletas, como das referências de natureza
local.
XXXVI. DA SAGRAÇÃO DE BISPOS E MINISTROS
O livro da Sagração de Bispos, e Ordenação de Presbíteros e Diáconos, estabelecido
pela Convenção Geral desta Igreja em 1792 contém tudo quanto é necessário para
a referida Sagração e Ordenação; nem há nele coisa alguma que seja por si mesma
supersticiosa e ímpia. E, por consequência, todos aqueles que são Sagrados ou
Ordenados segundo a referida Fórmula, decretamos que todos eles são reta,
canônica e legalmente ordenados.
XXXVII. DO PODER DOS MAGISTRADOS CIVIS
O poder do Magistrado Civil estende-se a todos os homens, tanto Clérigo com
Leigos, em todas as coisas temporais; porém, não tem autoridade alguma em coisas
puramente espirituais. E temos por dever de todos os homens que professam o
Evangelho o renderem obediência respeitosa à Autoridade Civil, que é regular e
legitimamente constituída.
XXXVIII. DE QUE NÃO SÃO COMUNS OS BENS ENTRE OS CRISTÃOS
As riquezas e bens dos cristãos não são comuns quanto ao direito, título e posse,
como falsamente apregoam certos anabatistas. Todos, no entanto, das coisas que
possuem, devem dar liberalmente ajuda aos pobres, segundo o seu poder.
XXXIX. DO JURAMENTO DUM CRISTÃO
Assim como confessamos que o Juramento vão e temerário é proibido aos cristãos
por nosso Senhor Jesus Cristo, e por Tiago, seu apóstolo, assim também julgamos
que a religião cristã de nenhum modo proíbe que uma pessoa jure quando o
Magistrado o exige em causa de fé e caridade; contanto, que isto se faça segundo a
doutrina do profeta, em justiça, juízo e verdade.